Fiz minha primeira prova de triathlon em 2015, o Rio Triathlon. Havia anos que não acontecia uma prova no Rio de Janeiro. O Armando Barcellos que acompanhou minha trajetória desde o primeiro fit para a primeira bike, me falou que eu era pé quente, o triathlon estava renascendo no Rio exatamente no ano em que eu começava no esporte. Iniciei no triathlon sprint, a distância oficial da ITU mais curta: 750m de natação, 20km de bike e 5km de corrida. Essa que é a porta e entrada para muitos se apaixonarem pelo esporte. Mas não se enganem, fazer um triathlon sprint a vera é sofrimento durante todo o tempo. Confesso que não gostava desse sofrimento quando fazia corridas curtas. Detestava as provas de 5km, fazia tanta força que não via nem por onde passei. Não sabia nem pra que lado foi a largada. E, no entanto, sempre tive bons resultados. Precisou eu fazer triathlon pra aprender apreciar como é muito mais fácil dar o máximo o tempo todo, não administrar, não guardar nada pra próxima etapa.
Em 2015 eu fiz todas as provas do calendário da Federação de Triathlon do Estado do Rio de Janeiro (FTERJ). Aquathlon, a prova em que sou mais fraca: 2,4km de corrida, 1km de natação, finalizando com mais 2,4km de corrida. Duathlon, a minha prova!!! Aparentemente meu talento é conseguir manter uma boa corrida após pedalar. São 2,1km de corrida no máximo, 16,8km de pedal pra morte e mais 4,2km de corrida pra deixar a última gota de energia no asfalto. Duathlon é doído, não nado bem, mas juro que sinto falta da água pra refrescar do aquathlon. Duathlon é duro, sofrimento grau máximo. Mas é sensacional demais!!! Porrada o tempo todo sem guardar nada pro final!
E para minha surpresa eu estava bem no ranking do campeonato estadual das 3 provas. Foi aí que começou um burburinho, que foi aumentando até virar um frisson. Em novembro haveria um Ironman 70.3 no Rio!!!
Eu sabia que era uma distância muito maior do que eu fazia, estava fora de cogitação pra mim nadar 1900m, pedalar 90km e correr 21km em pouco mais de 3 meses. Mas fiquei cheia de inveja dos meus amigos que já tinham mais rodagem e foram inaugurar esta nova era do triathlon aqui no Rio. Acho que essa inveja era tão grande que transpareceu para meu técnico Vitinho que me disse que se eu quisesse muito mesmo fazer essa prova com o objetivo de completar seria viável. Mas que todo o meu treino mudaria e as provas curtas ficariam pra 2º plano.
Inveja imensa dos meus amigos. O que eu queria realmente ter ouvido do Vitinho era: não vale a pena fazer só pra completar, vc está bem no ranking da FTERJ, vai fazer tudo mais ou menos e nada pra valer. Fui eu que tive que decidir isso e foi mais um aprendizado que o mestre me deu.
Nunca faço nenhuma prova só pra completar! Também meu objetivo não é ganhar, mas chegar nas provas na melhor forma possível para o momento. Fazer valer todos os treinos, todo o caminho até ali!
Segui o caminho traçado pra mim naquele ano: campeã estadual de duathlon, vice-campeã estadual de aquathlon e 3ª colocada no estadual de triathlon sprint.
Então quando abriram mais uma vez as inscrições pro 70.3 Rio em 2016, com a chancela do meu técnico me inscrevi imediatamente. Tão imediatamente que até a página do evento estava ainda em construção e foi liberada antes da hora e eu usei um link errado. Enfim, uma semana resolvendo a confusão até ter certeza que faria o Rio.
Mas, o Rio parece que sempre vai ter um "mas" pra mim, Vitinho me avisou: sua prova alvo de 2016 é o 70.3 Itaipu, em Foz de Iguaçu, você não estará tão bem treinada.
Ahhh eu queria fazer o Rio! Se eu for competir em qualquer lugar do mundo, especialmente de agora depois da Olimpíadas, tenho certeza que vão me perguntar "como é o 70.3 Rio? Deve ser espetacular!". A gente que treina aqui todos os dias se acostuma com a paisagem e por vezes esquece como o Rio é entre as grande metrópoles uma das melhores cidades para praticar triathlon.
É uma vantagem também competir no seu quintal, conhecer cada curva, ondulação, textura do asfalto. Além da torcida dos amigos! É uma tremenda injeção de ânimo ouvir uma voz conhecida gritando por você! E outra coisa, não viajar com sua bike. Sinceramente fico com o coração na mão até ter certeza que minha bike chegou inteira. E toda a logística simplificada de fazer uma prova em casa é menos um peso pra mente e pro corpo.
E todas essas vantagens de certa forma me atrapalharam um pouco. Mas nada de desculpas aqui! O resultado é o que está lá!
Geralmente quando uma competição se aproxima, eu começo a entrar na vibe, me transformando naquele bicho de competição que eu contei no outro post. Mas para essa prova eu estava relaxada: não tinha pressão por resultado, a vaga pro Mundial assegurada em Foz, não estava no auge da forma. Estava super tranquila. Talvez demais. Choveu muito mesmo no sábado que antecedeu a prova. Muita gente preocupada. Estava tranquila, foram muitos treinos na chuva, no vento. Essas condições não me assustam mais como antes.
A natação é sempre só o aquecimento pra minha prova. Não nado bem, estou trabalhando nisso, mas ainda é muito cedo para algum resultado significativo. O tempo melhorou muito no domingo, nublado e fresco sem chuva. O mar estava uma delícia pra nadar, algumas ondas, nada demais. Entrei tentei seguir um grupo intermediário, fiquei com elas a maior parte do tempo até que na última bóia de contorno pra retornar pra praia me perdi totalmente, justo eu que me orgulho da minha boa navegação no mar. Não foi que eu não olhei pra onde ia. Eu perdi completamente o referencial. Não reconheci a bóia para onde eu deveria seguir e nadei 100m a mais... já era meus planos de nadar melhor aqui no Rio. Mas fiquei tranquila, muita prova pela frente.
Um problema sem solução nas provas de triathlon aqui no Brasil é a questão do vácuo. Nas provas de Ironman é proibido pegar vácuo do ciclista à sua frente, há uma distância regulamentar a ser observada e há árbitros para fazer valer essa regra. O problema é sem solução porque aqui tem muita gente mesmo que vai pra prova já com o intuito de burlar a regra e anda descaradamente na roda. Há pelotões inteiros de ciclistas. Os árbitros estão lá, mas não tem um árbitro pra cada um... os "espertos" se dão bem. Tinha homem andando no meu vácuo. Fiquei com vontade de perguntar se ele não tinha vergonha.
Alguma hora eu fui ultrapassada por um pelotão enorme, eu tirei o pé, me afastei, um árbitro se aproximou em uma moto e começou a anotar todo mundo. Acostumada às provas do Rio Triathlon onde fazemos o retorno um pouco mais a frente, me distraí, quando vi o retorno estava do lado errado e não consegui entrar. Mais uma vez culpa minha de ter me distraído próximo ao ponto de retorno. 5 minutos pelo menos perdidos no pedal.
Tenho um amigo que fala que experiência não entra pelo ouvido. E nessa prova onde algumas coisas não saíram como esperado eu aprendi muitas lições. Uma delas foi por em prática resiliência. Ignorei o tempo perdido, apertei um pouco mais o pedal. Fiz a melhor transição bike-corrida da minha vida e saí pra correr com tudo que tinha sobrado.
Escuto alguém gritar: vamos, Ana!!! Estendo o polegar, meu sinal padrão de beleza! obrigada, e olho de rabicho de olho e vejo Fernanda Keller torcendo por mim!!! Quase que paro para agradecê-la!!!
No triathlon é muito fácil perder o amor pela corrida. Pedalar é bom demais e a corrida é a última coisa que fazemos já mortos do pedal. Vejo muitos triatletas que deveriam virar ciclistas. Correm apenas para completar a prova, se arrastam até a linha de chegada. Quando ponho meus pezinhos no chão faço fila e passo por todos eles a mil por hora.
Parece algo que faço fácil, um talento, um dom que eu tenho, mas não se engane. Não é. A corrida do triathlon é muito difícil pra mim. Mas aqui no Rio essa corrida foi muito especial. Além da Fernanda Keller outras lendas do nosso esporte estavam lá. Foi muito emocionante passar e ouvir Armando Barcellos gritar: Vamos, Aninha, agora é a hora! e ser incentivada pela Marcia Ferreira. Sempre penso neles e outros atletas nessas horas, e como o desempenho fantástico deles é resultado de muito treino e muito sofrimento e entrega durante as provas.
Também foi inestimável a presença do meu técnico que acompanhou toda a minha corrida, me incentivando, me ajudando a manter o foco e não deixar o pace cair.
Acho que dessa vez consegui um equilíbrio bom entre pedal e corrida. A velocidade que eu corri foi limitada pelas câimbras que ameaçavam aparecer cada vez que eu tentava alongar a passada para aumentar o ritmo. Gostaria de ter corrido mais rápido, mas foi o suficiente para fazer a melhor corrida amadora.
Apesar de todos os erros nessa minha prova, ainda consegui ser a campeã da minha categoria e 6ª amadora e assegurar o 2º lugar na minha categoria no mundo inteiro pelo ranking AWA. Erros são oportunidades de aprendizado. Aprendi minhas lições. Vamos para o próximo desafio que estou morta de vontade de voltar a treinar!
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