Já escrevi isso, mas como é meu mantra, vivo repetindo: eu amo o processo, adoro treinar, ainda que o objetivo final seja competir. Acho que parte da razão pelo qual eu amo o processo é pelo efeito do grupo.
O triathlon é uma competição individual. Existem os outros competidores, mas eles não podem influenciar diretamente seu resultado, não há muita interação ou cooperação durante as provas sem vácuo no ciclismo. É só você contra você mesmo, uma negociação interminável com seu cérebro que insiste em tentar fazer você diminuir o ritmo, enquanto você batalha contra o Universo: nadamos contra a resistência da água e as correntezas, pedalamos contra a resistência do ar e a força do vento e vencemos a gravidade para conseguir correr.
Mas os treinos são em grupo, ou melhor em equipe!
Já parou pra pensar como os treinos coletivos rendem muito mais do que os individuais? Em como é horrivelmente doído fazer rolo (para a galera não ciclista: é o equivalente a fazer um longo de corrida forte na esteira)?
Um estudo feito com remadores da Universidade de Oxford em 2009 mostrou que após o treinamento em grupo a tolerância a dor, associada à produção de endorfinas, é maior do que após o mesmo treino feito individualmente. As endorfinas estão associadas ao "barato dos corredores", uma intoxicação semelhante à causada por uma dose leve de opiáceo: bem estar e leve analgesia. Aquela sensação incrível depois de um treino sensacional!
Ou seja, realmente dói menos treinar em grupo do que sozinho.
As endorfinas também estão envolvidas nos processos de criação de vínculos sociais. Por isso que só você e seus amigos de treino entendem que treino é social, é diversão, ainda que envolva acordar de madrugada, sofrer, sentir dor.
Só isso já é um incentivo pra treinar com alguém, seja mais forte, seja mais fraco, seja um psicopata que adora sofrer nos treinos, seja alguém zen que como fala a minha professora de yoga pratica a não agressão com o corpo.
Mas quando todos em uma equipe estão lá porque adoram o processo, ou seja, adoram treinar independente do resultado final e têm completa fé na capacidade do líder da matilha, o treinador, os resultados são grandiosos.
Fazer parte de um grupo forte é bom para o todos. As pessoas percebem isso como um sinal da sua própria excelência e logo começa a competição. Mas essa competição é a melhor que existe: é a vontade de ter um desempenho igual ou melhor do que os colegas, para ganhar respeito das pessoas que você admira. E só se ganha respeito se a competição for amigável, aquela que rende risadas entre um café ou uma cerveja depois do treino.
Mas na realidade, acho que podemos tirar inspiração de todos em um grupo. Não só dos mais fortes ou dos que ganham provas.
Alguém que está acima do peso, que decide seguir os treinos de verdade e ter uma um vida mais saudável. Ou outro que não tem tempo ou logística para aparecer em todos os treinos, mas encara a tortura do rolo, tenta tirar o melhor de cada treino, arruma horários alternativos. São exemplos inspiradores de força de vontade, de lutar contra as dificuldades e não desistir.
A verdade é que em um grupo todos contribuem para incentivar os outros e muitas vezes sem perceber.
E apesar das competições serem uma luta solitária contra os elementos, eu tento reunir e levar comigo imagens mentais dos melhores treinos, aqueles que eu estava rendendo muito e a sensação de esforço era forte, mas agradável; e também aqueles em que sofri horrores, mas não desisti e não entreguei os pontos. E quando estou sofrendo sozinha durante uma prova, imagino cada um dos amigos de treino falando: Continua, Ana, não desiste, você está ótima! E quando você chegar vai ter cerveja!!!
Rowers' high: behavioural synchrony is correlated with elevated pain thresholds
http://rsbl.royalsocietypublishing.org/content/6/1/106
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