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Sobre nadar...

Quando eu me apaixonei por pedalar e decidi que faria triathlon (isso é uma outra estória que ainda vou contar), já sabia que a natação seria o mais difícil pra mim. Eu fiz natação como todo mundo fez, mas por um período muito mais curto, o suficiente pra nadar crawl sem me afogar.

Então, eu que já era corredora, resolvi que primeiro integraria a natação na minha rotina e se eu conseguisse, incluiria finalmente o pedal.

Descobri uma assessoria que tinha treino de natação no mar na Praia Vermelha. Morando na Urca pra mim foi perfeito. Comecei, apenas três treinos semanais, intercalados com os três outros de corrida que tinha durante a semana. Adorei! Nadar no mar é uma das coisas que mais amo fazer!



Mas como eu ficava cansada! Tudo porque acordava 6:30am para os treinos. Vivia com sono! Dormia na sessão de 9pm no cinema! Não conseguia me imaginar acordando de madrugada pra pedalar! Mas já estava apaixonada pela natação em águas abertas! E enquanto isso procurava uma bike pra comprar (isso é outra estória que também ainda vou contar).

Passou tempo, meu desempenho no triathlon me surpreendeu. Comecei no Sprint em 2015 e agora em 2016 migrei pra distância 70.3.

Eu me recusava a ir pro confinamento clorado das piscinas. Por enquanto a minha natação completamente desproporcional em relação ao meu pedal e à minha  corrida era suficiente para bons resultados.

A photo posted by Ana (@analuiza_tri) on

É interessante como tudo no triathlon aconteceu de forma gradual e na hora certa pra mim, tenho que agradecer meu excelente técnico Vitinho por isso. Meu primeiro 70.3 que seria em Brasília migrou pra Palmas no Tocantins... De qualquer forma, seria natação em água doce, até aí nada demais, nadaria um pouco pior. O problema é que em Palmas a água do Rio Tocantins é quente e não é permitido o uso de swimsuit. Aí a coisa fica feia pra mim que não nado bem.

Então tive que dar o braço a torcer e adicionei aos 3 treinos semanais no mar, 2 treinos em piscina. O que encaixava na minha rotina, ou melhor o que eu estava disposta a fazer, era nadar na piscina da academia, 1h duas vezes por semana.

Começou o meu confinamento clorado e já de cara na solitária: horário de raia livre, normalmente sozinha cumprindo os treinos da planilha. Me sentia como um peixinho em um aquário. (O pior é que a piscina realmente era uma espécie de aquário com janelas para o corredor do prédio). Mas esses treinos me ajudaram bastante a me sentir confortável na água clorada, quer dizer doce, sem roupa de borracha. Aprendi a me posicionar melhor, a puxar melhor a água.

Meu primeiro 70.3 e a natação me assombrava: água doce, quente, rio com correnteza... e piranhas!!! Sim, piranhas! Vários ataques a banhistas na Praia da Graciosa, onde seria a natação do 70.3, ocorreram próximo a data da prova. Havia risco de não haver natação. E juro que não estava torcendo pra que isso acontecesse! Queria que minha estreia fosse pra valer!




Enfim a prova chegou! Me sentia totalmente preparada pra pedalar os 90km e correr os 21km, mas esses 1,9km de natação me tiravam o sono.

A largada era esquisita, havia uma corda guia para nos direcionar pra longe de um banco de areia, o que criou um afunilamento e as primeiras braçadas foram em estilo polo aquático pra me defender da pancadaria. Bom, nem é tão pancadaria assim como na largada dos homens.

Quando finalmente coloquei a cabeça na água, senti o gosto metálico estranho daquela água barrenta. Como tinha chovido muito no dia anterior a água não estava tão quente. Tentei pegar algumas esteiras e confesso com uma ponta de culpa que até curti nadar no Tocantins. Mas o tempo final foi abaixo de medíocre como sempre. Fiquei em 2º na minha categoria no campeonato sul-americano. Uma natação melhor talvez me colocasse em uma posição de combate homem a homem, ou melhor mulher a mulher. Talvez eu ganhasse o campeonato... Talvez... Talvez... Com o "se" coloca-se Paris em uma garrafa.

Próximo desafio: 70.3 Itaipu. Água doce, lago da represa... Ah, mas dessa vez, swimsuit permitido! Aumentei meu tempo na minha solitária clorada para três vezes por semana mais a liberdade do mar por dois dias, com minha amada sereia e professora de natação Virginia. Nesse meio tempo, perdi o amor pela natação. Não conseguia evoluir... Detestava cada minuto dentro da piscina. Até no mar eu entrava desolada. Pensei em desistir começar a fazer só duathlon. Tem um monte de prova legal pelo Brasil e pelo mundo também!



Mais uma vez chego em uma prova super preparada pra correr e pedalar, mas sem a mesma empolgação pra nadar. Enfim... em termos de tempo final, minha natação fraca não compromete muito, afinal cheguei um bom tempo na frente da 2ª colocada na minha categoria. 1º lugar na categoria, 5ª geral, vaga pro Mundial em 2017. Uma corrida sensacional, um bom pedal. Natação menos que medíocre. Padrão. Eu já conformada com o fato de nunca nadaria bem, faria os duathlons ano que vem e só faria o 70.3 de Pucón e o do Mundial.

Então meu técnico começa a falar em tentar um top 10 no Mundial, um amigo me fala que acredita que eu possa ficar entre as melhores do mundo, mas que precisaria me desapegar da natação no mar e passar mais tempo no confinamento clorado. Natação de verdade, num clube. Volume, velocidade, técnica.



Tudo no triathlon sempre foi divertido pra mim: mesmo os treinos de pedal na madrugada, onde aprendi técnica e ganhei velocidade. Mesmo os treinos de corrida puxados. Mesmo nadar no mar no frio e na chuva.

Então entendi que chegou um ponto em que a natação ruim faz diferença. E não porque meu pedal e corrida estão medíocres, mas justamente o contrário.

Respirei fundo e aceitei que a natação é como as matérias que eu não gostava na escola: preciso dedicar mais tempo a ela do que eu gostaria. Um pouco de "fazer o que tem que ser feito" ajuda a construir o caráter.

Comecei a nadar perto de casa à noite depois do trabalho, quatro vezes por semana, apenas um dia de liberdade no mar. Os treinos são pesados, não curto o tempo que passo dentro da piscina. Mas toda vez que penso em matar a natação, olho uma foto da Gwen Jorgensen na tela do meu computador. E lembro dela falando que quando decidiu em 2012 que ganharia a medalha de ouro agora no Rio ela sabia que o treinamento seria duro, mas não imaginava o quão duros eles realmente foram.

Quando migrei pra distância 70.3, os volumes treinos aumentaram muito, tive que abandonar a yoga. Sentia muita falta. Agora não mais. Quatro vezes na semana passo 1h30 na piscina, meditando, presente, preocupada com cada aspecto da minha braçada.

Estoicismo nível Jedi.

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