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Copa Rio de Janeiro de Ciclismo - Etapa Guapimirim

Sou triatleta, mas às vezes faço hora extra como ciclista, participando de algumas competições de ciclismo. Essas provas são completamente diferentes do triathlon, mas são emocionantes e dinâmicas! Um verdadeiro jogo de xadrez em alta velocidade!

Domingo passado participei da 4ª etapa da Copa Rio de Janeiro de Ciclismo. A previsão era de muita chuva.

A caminho pra prova já chovia forte. Se fosse um dia normal de treino, teríamos cancelado. Quando pensei em desistir e voltar pra casa, chega mensagem no grupo do meu técnico avisando que ele já estava lá e que não era pra gente desanimar com a chuva.

Kits na mão, hora de decidir onde prender o número: na camisa ou no casaco corta-vento? A chuva deu uma trégua, resolvi ser forte e ir sem casaco.

Desde a primeira etapa da Copa Rio de Janeiro que participei esse ano, em Mangaratiba, segui a orientação do meu técnico: me federei e me inscrevi na elite feminina. Eu sigo ordens. Mas sempre me sinto intrusa quando alinho com as meninas na largada. Sou triatleta e não ciclista e, muito longe de ser elite, sou apenas uma amadora dedicada.

A Elite Feminina largou junto com a Master Feminina. Nosso pelotão estava mais pra um gruppetto, não só porque largamos atrás da Elite Masculina e demais categorias Master Masculinas, como pelo espírito mais camarada que impera. Exceto pela Camila Coelho, que é de São Paulo e era a grande favorita para ganhar a prova, todas nós nos conhecemos de outras provas, tenho até uma querida xará no Master.

Há duas semanas da prova fiz o percurso com meus dois grandes parceiros de treino, que eu chamo carinhosamente de morceguinhos. Sabe aquela estória de passarinho que sai com morcego acaba de cabeça pra baixo? Essa sou eu que pedalo com eles e me viro pra me segurar na esteira deles. Sou imensamente grata a eles por me levarem na roda e tomarem conta de mim. Minha evolução no pedal se deve em grande parte a esses treinos com eles.

Voltando... Fiz o percurso da prova com os morceguinhos. Foi a primeira vez que pedalei na RJ-122 que sai de Guapimirim e vai em direção a Cachoeiras de Macacu. Essa estrada é uma delícia: uma bela vista, especialmente na volta pra Guapi com a Serra dos Órgãos ao fundo, rolling hills para quebrar a monotonia do pedal. E também é traiçoeira exatamente por isso: o sobe e desce vai lentamente sugando energia.




Quando largamos o ritmo foi forte com a Camila puxando o pelotão. Depois ficou mais tranquilo quando todas começamos a revezar. A chuva começou a cair. E não era fraca, a pista estava muito molhada, o asfalto tinha ondulações e buracos, especialmente próximo a3w4o acostamento, a atenção estava redobrada. Mas como falei, o espírito no pelotão feminino é outro: quem estava na frente sinalizava os obstáculos para quem vinha atrás.

Fomos ultrapassadas por algumas categorias da Open Masculina e a Camila que era a líder incontestável do pelotão resolveu segurar o ritmo e se abrigar atrás de um pelotão masculino. Foi aí que começou meu sofrimento...

O percurso de 136km eram duas voltas de 68km saindo de Guapi até a fábrica da Schincariol. Quando fizemos o primeiro retorno, km 34, o ritmo caiu, chovia. Andar no pelotão na chuva é horrível, o spray da roda na sua frente, parece que tem alguém com uma mangueira de água apontada pra você. Comecei a ficar extremamente entediada e com frio, me arrependendo de não ter ido de corta-vento, e faltava muuuuuuito pra prova acabar. Pela primeira vez na minha vida eu não me divertia em uma prova. Fiz minhas contas e pelos últimos embates com minhas companheiras de pelotão, achei que com sorte conseguiria chegar em 5º lugar, porque essa prova terminaria em um sprint que não é minha especialidade. Eu só pensava o quê que estava fazendo ali, porque não fiquei dormindo até tarde com as minhas gatinhas nesse domingo de chuva. Meu único consolo era tomar os deliciosos géis da CNP (http://www.cnpprofessional.co.uk/) a cada 30 minutos. Sério. Eu juro que estava pedindo pros ETs me abduzirem ou ter um problema mecânico grave que me impedisse de continuar e ter uma saída honrosa daquele sofrimento.

Não me entendam mal. O sofrimento do pedal: fazer força, sentir a perna queimar, o cérebro reclamar, tem um lado meu masoquista que adora! Mas passar frio e ficar tomando spray de roda em velocidade de passeio, sem fazer força... Deve ter um círculo do Inferno assim reservado pra mim!, onde uma das coisas que eu mais adoro fazer que é pedalar, se transforma em um sofrimento interminável.

E fora os detalhes sórdidos de andar atrás de um pelotão masculino. Os caras estavam mijando em cima da bike sem o menor pudor de pelo menos ficar junto ao acostamento e mirar pra fora da estrada! Quase que uma de nós levou um spray de mijo! Outra visão desse círculo do Inferno que eu estava presa: um cara usou tanto gel pra evitar assadura que com a chuva e o atrito, virou uma espuma nojenta que voava em nossa direção!

Finalmente chegamos em Guapimirim e só faltava uma volta, apenas 68km de sofrimento. Mas aí a brincadeira ficou interessante porque no retorno a Camila arrancou rápido e pegou algumas meninas de surpresa. Eu estava na rabeira, mas graças aos meus talentos desenvolvidos ao longo de vários treinos tentando não sobrar dos morceguinhos, eu tenho uma boa arrancada e consegui seguir com pelotão agora desfalcado.


A partir daí não sei se a chuva parou ou eu não prestei mais atenção porque começamos a andar mais rápido. A Camila atacou algumas vezes, mas todas estávamos atentas e buscamos todas as vezes até que acho que faltando uns 20km ela atacou eu instintivamente ia atrás, mas as meninas gritaram: deixa ela ir! Decisões em microssegundos: vou atrás e tento seguir a Camila?, se eu ando na roda dos morcegos, eu ando na roda dela! Mas se eu perder a roda vou estar cansada e as meninas inteiras. Meu contra-ataque morreu: fiquei com o pelotão...

E aí o ritmo caiu, ninguém queria fazer força, para se poupar ou porque estavam afogadas mesmo. E eu só pensava, vai demorar muuuuuito pra chegar. Benvinda de volta ao círculo do Inferno!

Foi só quando faltavam uns 3km que as coisas se animaram e vários ataques aconteceram. Nós da elite brigando pelo 2º lugar e a Master ainda indefinida!

Enfim o sprint final começou!!! Fiquei encaixotada, mas não tive dúvidas fui no acostamento, cortei por fora o cone que marcava um buraco e fui acelerando. Igual nos treinos de tiro com os morceguinhos. Acelerei. Passei todas da elite que restavam no pelotão. Acelerei. Ainda tinha lenha pra queimar. Apenas uma menina do Master na minha frente. Tranquilo, estou em 2º da Elite. Entrei na roda dela peguei impulso e passei!!!



Mal podia acreditar que ganhei um sprint!!!

3h51min02 de prova, 23 segundos atrás da grande vencedora Camila Coelho que realmente pedala muito e só engrandeceu a prova com sua presença. Acho que foram umas 3 horas e meia de sofrimento pra uns 20 minutos de diversão. Mas no final valeu à pena. A RJ-122 mais uma vez ajudou a construir meu caráter (o reconhecimento do percurso foi uma outra estória de sofrimento, mas do tipo bom).

Só posso agradecer meu querido técnicoVitinho que parece fazer mágica ao me preparar para as provas e aos meus queridos morceguinhos.  Já até me acostumei a terminar os treinos de cabeça pra baixo e pelo avesso.






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