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Pucón I

Domingo 14 de janeiro eu participo do Ironman 70.3 em Pucón. Esse ano estou tranquila, não tenho mais medo de não conseguir apresentar um desempenho à altura do que treinei. Serenidade, confiança, eu finalmente conquistei. Eu achava que se não estivesse surtando antes da prova, na hora ia faltar o modo competição.

Ano passado eu já tinha decidido que levaria comigo meus queridos morcegos (meus dois amigos mais próximos de equipe): desenhei asas de morcego nos braços com marcador permanente. Eu as via o tempo todo durante o pedal e lembraria dos inúmeros treinos de bike que os dois graciosamente me levaram na roda e que foram tão importantes para a minha preparação.

Esse ano não é diferente... ainda não decidi o que vou fazer, mas Pucon está com muita cara se tornar pra mim a prova dos morcegos. O marcador permanente está na mala!

O 70.3 de Pucon tem a peculiaridade de ser logo no 2º domingo de janeiro, portanto é necessário manter a disciplina de treinos durante as festas de fim de ano. Então quando a maioria está dando um tempo dos treinos ou no máximo fazendo base, estou treinando forte para competir. E é exatamente nessa hora que os morcegos mostram seu valor. Primeiro porque eles amam o processo, ou seja, treinar tanto quanto eu. Então mesmo com chuva, mesmo sem precisar acordar de madrugada, mesmo sem precisar fazer tanta força, eles estão lá pra treinar como eu gosto: forte!

A serenidade e confiança que conquistei vêm do processo, como contei no post anterior. Mas alguns treinos são mais especiais que outros. 

Dessa vez vou levar comigo meu último longo de bike antes da prova. Foi especial porque com apenas eu e um dos morcegos revezando foi duro e muito próximo das condições de prova.
(Ele ia viajar nesse dia, tinha que estar em casa cedo, mas foi lá treinar. Eu sei que ele adora treinar e não perde treino por nada, mas sei também que ele queria estar lá no meu último longo).  




Vou lembrar do pedal que estava participando do revezamento e quando achei que não ia mais conseguir revezar mantendo o ritmo do grupo, um deles me falou “puxa só um minuto em vez de dois!”. Fiz isso uma vez, recuperei a confiança e a força e voltei a revezar dois minutos sem deixar o ritmo cair. 

Vou lembrar do treino na Orla que acabei o pedal tão cansada que não sabia se ia conseguir entregar o pace da corrida, ainda mais com subidas. E a corrida saiu, melhor do que o esperado! Mas como foi sofrida!!!



Vou lembrar do quanto sofri na piscina… da alegria de ver os paces caindo dia a dia. 
Em especial quanto à natação, minha eterna fraqueza no triathlon, vou levar meu último treino como resumo e ápice de dois meses de treinamento intensivo na piscina com um dos morcegos que deixou de lado por um tempo os treinos dele de natação para me espancar na piscina. 



Esse treino foi especial porque ao contrário dos anteriores, eu entrei sem me preocupar com pace, sofrimento ou força que teria que fazer. #ZenSwimming, como a gente passou a chamar esse estado de espírito. E saiu um excelente intervalado, foi natural, não foi fácil, mas estava em águas conhecidas. 

O único jeito de melhorar é sofrendo mais. Então eu valorizo muito essa relação sadomasoquista com os morcegos.  Eu adoro sofrer com eles e eles sabem que me fazendo sofrer me fazem evoluir. Me sinto mimada, a mascote do grupo. 

E são essas sensações boas que tento levar comigo para quando estiver sofrendo na prova. Elas me ajudam naqueles momentos em que é mais fácil tirar o pé, diminuir a dor. São esse momentos que me fazem seguir em frente enfrentando a dor. E quando finalmente a linha de chegada chegar, independente do resultado, eu sei que fiz o melhor que podia para aquele dia. 

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