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Pucon II

Na segunda-feira antes do 70.3 de Pucón meu técnico Vitinho me mandou as modificações da planilha da semana devido ao mal tempo no Rio. Para domingo, dia da prova, estava escrito: vai fazer seu melhor 70.3. Eu comentei rindo que essa era a melhor parte da planilha, mas não dei muita importância porque não estava muito preocupada com essa prova: resolvi fazer em cima da hora, estava vindo de uma fase intensiva de ciclismo, logo a corrida, meu forte no triathlon, não estava essas coisas. Por outro lado, estava vindo de uma mudança de paradigma nos meus treinos de natação e queria muito ver como me sairia em uma prova. 



Apesar de estar desproporcionalmente tranquila, sempre fico muito mal no dia anterior à competição: me sinto cansada e fraca, com dores estranhas. Deve ser síndrome de abstinência de endorfina pela redução nos treinos. Queria ser daqueles que sentem a energia potencial se acumulando para liberar tudo no dia da prova. Então me concentrei nas coisas práticas: arrumar as coisas para o bike check-in, separar a comida, hidratação e todos os detalhes que não são poucos em uma prova de triathlon.

Dessa vez, quando alinhei para a largada da natação, entrei de cabeça erguida, com lágrimas nos olhos como sempre, mas sem medo, sem achar que eu não pertencia àquele lugar. 

Quando entrei na água, encaixei o que acreditava ser um bom pace. A natação é a etapa mais lowtech: quase nenhum feedback. Então é tudo muito na sensação de esforço. Durante o percurso me toquei que não só quase não fui ultrapassada como estava ultrapassando várias pessoas!!! 

Não melhorei meu tempo tanto quanto gostaria. Mas considerando que ainda que o percurso seja aproximadamente o mesmo do ano anterior, as condições nunca são exatamente iguais, fiquei muito contente quando comparei minha classificação do ano passado com esta: 11ª na minha faixa etária e 84ª entre as mulheres. Ano passado: 22ª na faixa etária e 150ª entre as mulheres.

Então partiu pedal! Estava muito animada porque pela primeira vez em uma prova usaria uma roda fechada. Além da vantagem aerodinâmica, sempre achei um tesão aquele som característico!!! O percurso de bike em Pucón não é plano, mas também não tem nenhuma subida muito íngreme e longa. E para o dia da prova estava previsto muito pouco vento. Então as condições eram praticamente perfeitas!

Quando comecei a pedalar, como sempre foi difícil segurar a empolgação, mas me mantive dentro do meu limite superior programando da FTP. O percurso é um loop único com uma longa subida pouco íngreme seguida de pequenas subidas e descidas mais inclinadas. Então deixei para economizar watts na volta que é majoritariamente descida. 

Eu passei muitas, mas muitas mulheres no pedal, 73 para ser exata! 43 só nos primeiros 26km de pedal. Geralmente isso acontece na corrida...
O pedal estava tão bom que eu não queria que acabasse!



Mas paguei o preço por tanta diversão: quando saí pra correr estava no limite. Eminência de câimbras nas pernas me assombrando. E com um percurso com subidas e descidas agressivas, corri segurando o pace no limite exato para não travar as pernas. Tudo que eu curti no pedal sofri na corrida, que é a hora que eu sempre adoro forçar até o limite e dessa vez não pude. Eu corria com uma relativa sensação de conforto porque não podia aumentar o pace e isso me doía mais que as minhas pernas. Eu que sempre ultrapasso muita gente nessa etapa, dessa vez me senti me arrastando. Fazia força controlada e fazia contas: o que eu ganhei no pedal justifica o que perdi na corrida? Me convenci que sim e continuei. Passava algumas mulheres, mas como era um circuito de 3 voltas não sabia realmente com quem estava competindo. Apenas corria o mais forte possível na minha condição. 

Quando cruzei o portal de chegada e parei meu Garmin, as lágrimas escorreram: 4h55. Lembrei da minha garrafa de água que meus amigos de equipe encheram de bons desejos para a prova: um deles escreveu: sub 5h. E na hora pensei: em Pucón? Nem em sonho! A natação é lenta, tem subida e vento no pedal, a corrida cheia de subidas. Outro colocou: 4h58, pensei: tá de brincadeira…



Alguém colocou um Gatorade aberto na minha mão, sentei e fiquei um bom tempo entre lágrimas e câimbras.

Não sabia minha classificação, mas estava extremamente feliz com a minha prova: melhorei alguns minutos na natação, fiz um pedal matador e até tirei uns minutinhos da minha corrida em relação ao ano passado. 

Então quando saio da área de chegada restrita aos competidores, ainda estropiada, andando toda torta, um cara me para e fala: “você é Ana Luiza?” Sou… “Você ganhou!” Não, claro que não! “Você venceu entre as amadoras!” e me mostrou o meu resultado no celular. “Você ganhou da minha esposa! Parabéns!”. 

Fui a melhor amadora!!! Top 100 (93ª) geral incluindo os homens! 3º melhor pedal de todas as mulheres!

Eu realmente não esperava!

Vitinho estava certo, como sempre!, não foi meu melhor tempo de 70.3 por três segundos de diferença em relação ao Rio ano passado, mas definitivamente este foi o melhor 70.3 da minha vida!









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